Antropologia dos sentidos e alteridade
“A antropologia dos sentidos busca, antes de tudo, determinar como a estruturação da experiência sensorial varia de uma cultura à outra segundo a significação e a importância relativa vinculada a cada um dos sentidos. Ela também busca retraçar a influência destas variações sobre as formas de organização social, as concepções do eu e do cosmo, sobre a regulação das emoções e sobre outros domínios da expressão corporal.”
D. Howes
Você consegue despovoar os seus sentidos do que sente como natural ?
Tem consciência das escolhas sensoriais imprimidas na sua longa jornada educacional ?
O povo Aiviliks do grande Norte certamente tem uma outra relação com a temperatura , o sentido térmico é uma forma de tato e as condições de infância determinam profundamente a nossa tolerância pessoal à temperatura ambiente.
Esta é só uma das múltiplas diferenças pois na sua cosmologia, o mundo foi criado pelo som. Isto implica uma atenção especial a este sentido, os Aiviliks são capazes de designar diferentes sopros do vento ou contexturas da neve.
O estudioso da realidade esquimó, E. Carpenter explica:
Lá onde um ocidental diria : Vejamos os que nós entendemos , eles diriam: Ouçamos o que nós vemos
Todas as pessoas habitam corporalmente o tempo e o espaço de sua vida e esta presença é muitas vezes automatizada.
Cada corpo é uma história de sensações que geraram formas de percepção, tão arraigadas que nem mais damos conta que esta é uma forma de sentir a realidade criada por costumes, ambiência e práticas educacionais.
Os Hausas que vivem no norte da Nigéria, distinguem as pessoas através do sabor.
“Uma criança é sem sal, ao passo que um homem maduro tem o sabor quente e condimentado. A comida quente e picante possui virtude eróticas para o homem. As mulheres conhecem sabores diferentes segundo seu ciclo de vida “ David le Breton
Os regimes alimentares tem um caráter fundamental , uma pessoa pode jurar comer sal para afirmar que está dizendo a verdade. A medicina Hausa é sagrada e as relações entre o alimento e moralidade, faz do paladar um sentido privilegiado.
A concepção aiurvédica da India segue também esta complexidade com um léxico de 63 sabores diferentes e toda uma religiosidade vinculada aos rituais alimentares.
Estou trazendo estas culturas de contraste para que você perceba que vive imerso numa cultura de sensibilidades cultivadas e outras abafadas.
Como pesquisamos processos criativos entendemos que muitas vezes a limitação das formas de sentir reduzem horizontes de criação e que precisamos, por vezes, refazer este contato mais direto com outras formas de sensibilidade. Esta é a razão de termos escolhido ler, neste semestre o livro : Antropologia dos sentidos de David le Breton
As conversas sobre os capítulos geram novas meditações e assim vamos refletindo sobre as nossos próprios preconceitos e impedimentos sensoriais.
Dá uma olhada no que já escrevemos e se quiser pode entrar nesta jornada que segue até junho, é só mandar uma mensagem :
A flor da pele
A magia entre o som e o silêncio
Os chamados sonoros da vida
Clarividência
Gosto: sabor de viver e aversão ao outro
Ouça nossos artigos produzidos pela leitura dos livros de Cecília de Almeida Salles sobre processos de criação no Podcast da Residência criativa
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