Manuscritos : com o coração na mão
Conhecer a exposição, A magia do Manuscrito, que foi baseada na coleção de Pedro Côrrea Lago e seu livro ; trouxe várias meditações sobre a importância da escrita e da troca pulsante de cartas, postais e diários no processo criativo.
No momento em que grande parte de nossa comunicação se torna totalmente imaterial, essa coleção transmite o poder da caneta e do papel para iluminar a energia, a paixão, a vulnerabilidade e a imaginação da humanidade através dos tempos.
Com curadoria do próprio colecionador, foi originalmente apresentada pela Morgan Library Museum, em 2018, na cidade de Nova York. A exposição conta com cerca de 180 peças originais na letra de figuras de destaque, divididas em seis grandes áreas da humanidade – arte, história, literatura, ciência, música e entretenimento – com escritos de personalidades internacionais, como Isaac Newton, Darwin, Einstein, Marie Curie, Nelson Mandela, Mozart, Michelangelo, Picasso, Frida Kahlo, Van Gogh, Beethoven, Kafka, Tolkien, Simone de Beauvoir, e muitos outros.
Eu sou apaixonada por estes pulsos criativos, textos que abrigam o ritmo quente capaz de te levar numa enxurrada de emoções e descobertas.
Você já escreveu um poema, uma carta, uma reflexão no seu diário de forma contundente e impulsiva; aquelas que quando você lê parece contar coisas que nem sabia que pensava ou sentia ?
Claro que esta emoção pode também existir num texto datilografado ou digitalizado mas a sismografia imagética ou da letra escrita parece representa-lo de modo mais sincero. Veja estas imagens do diário de Frida Khalo :
Para Frida Kahlo, escrever com o corpo significa inscrevê-lo em suas pinturas - na maioria autorretratos - e registros no diário. Através da visceralidade, a artista expõe seus sofrimentos físicos, gritos de dor, suas mutações e limites impostos pelo quarto de um hospital. Há, no diário, em torno de 70 gravuras coloridas, diversos desenhos, autorretratos, poesias, cartas, intertextos que dialogam com a obra pictórica, com a política, com confissões amorosas a Diego Rivera, e marcas singulares de pensar o cotidiano e a vida.
Para o escritor e ensaísta Maurice Blanchot (1959/2005), a temporalidade é uma característica marcante dos diários, que os distinguem de outras modalidades de escrita:
“O diário íntimo, que parece tão livre de forma, tão dócil aos movimentos da vida e capaz de todas as liberdades, já que pensamentos, sonhos, ficções, comentários de si mesmo, acontecimentos importantes, insignificantes, tudo lhe convém, na ordem e na desordem que se quiser, é submetido a uma cláusula aparentemente leve, mas perigosa: deve respeitar o calendário. Esse é o pacto que ele assina”
As cartas são um universo imenso e encantador pra quem ama os processos criativos. Eu adoro quando encontro os desenhos nas cartas também, escrita e imagem não pretendem se sobrepor em uma relação hierárquica; mais do que isso, elas estabelecem uma conversa entre si, que resulta em um novo conteúdo, dando ao leitor/observador a possibilidade de coletar informações por diferentes meios.
Carta de René Magritte (1898–1967) para o amigo Francis Lee (1946)
E você desenha nas suas cartas ? Ou nunca mais escreveu uma e só manda email ?