Os desdobramentos do saber

Saber é uma palavra cheia de surpresas que como um olho d'agua não cessa de brotar em novos sentidos e veredas.

Uma pessoa que sabe algo : explica.

Quando estamos com ela parece que entendemos todas as facetas daquele fato ou acontecimento. Sua descrição ou mesmo demonstração da situação apreendida, ilumina nossos horizontes de forma lúcida.

Ao mesmo tempo quando encontramos uma pessoa apaixonada por um ofício ou arte e pedimos que nos fale sobre, percebemos logo que ela sabe o que faz mas não explica, não dá detalhes ou receitas.

Seu corpo todo está imerso naquele fazer e em cada gesto ela pulsa este envolvimento amoroso, este saber a implica.

Plica é dobra, quando o saber explica, ele se desdobra pra fora em explicações ordenadas, outras vezes o conhecer se desdobra pra dentro, envolvendo intimamente quem está presente, fica então recheado de implicações e mobiliza o nosso modo de ser.

Esta dança pode criar momentos em que tudo complica : é o saber revelando sua coreografia. São processos criativos que se desdobram simultaneamente em explicações que nos implicam e alimentam nossa vontade de continuar a pesquisa : um interesse que podem durar anos.

Uma boa metáfora destes desdobramentos criativos são as sutis e resistentes teias das aranhas.

De fio em fio desenhamos uma relação contínua entre diversos conhecimentos que tramam paradigmas de entendimentos. Enredados neste buscar pulsante, envolvente e por vezes conflitante criamos moradas de saber.

Você já viveu um processo de aprendizagem assim ?

Que explica, implica e complica a sua vida mas que hoje já faz parte de quem você é.

Estas complicações são pontos de tensão que sustentam nossas formas de compreender o mundo, seus nós invisíveis são muitas vezes o chão de nossas relações e criam perguntas chaves que orientam nossas escolhas.

Será que foi isto que quis dizer o poeta Pessoa, em seu reconhecimento da mestra das teias ?

A aranha do meu destino

Faz teias de eu não pensar.

Não soube o que era em menino,

Sou adulto sem o achar.

É que a teia, de espalhada

Apanhou-me o querer ir...

Sou uma vida baloiçada

Na consciência de existir.

A aranha da minha sorte

Faz teia de muro a muro...

Sou presa do meu suporte.

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