Corporeografia

Adquirir um corpo é um empreedimento progressivo que produz simultaneamente um meio sensorial e um mundo sensível

É necessário considerar o corpo como um ecossistema autopoiético que não se reduz à casualidade linear e sim faz-se em criação contínua. O eu que fala está instalado em seu corpo e em suas linguagens táteis, olfativas, gestuais e de movimento. A reversibilidade do corpo diz respeito à comunicação entre os diferentes sentidos. 

Há uma circularidade entre os acontecimentos internos e externos sendo a percepção uma fonte criativa. Hubert Godard diz que é preciso entender que não podemos mudar a postura de ninguém. 

A única coisa que podemos fazer 

“é evocar a emoção do encontro com o mundo” 

Qualquer mudança estrutural no corpo requer um período de aprendizagem e de integração, e estas mudanças vão exigir uma adaptação no sistema sensório- motor. 

Escutar o corpo é fundamental durante o processo de vivência criativa, neste existe uma ampliação da sensibilidade e muitas reverberações físicas podem surgir.

Obra de Léna Macka

Corpo , em definição dinâmica, é a aprendizagem de ser afetado.

As partes do corpo, portanto são adquiridas progressivamente ao mesmo tempo que as “contrapartidas do mundo” vão sendo registradas de nova forma. 

Na vivência de um processo criativo intenso é frequente termos repercussões no corpo : mudanças nos regimes de sono e alimentação,  acidentes físicos ou desordens bioquímicas que revelam esta ebulição desta nossa matriz compreensiva orgânica.

Ou como diz Merleau Ponty:

“o enigma reside nisto : meu corpo é ao mesmo tempo vidente e visível. 

Ele que olha todas as coisas, também pode olhar a si e reconhecer no 

que está vendo então o “outro lado” do seu poder vidente. 

Ele se vê vidente, toca-se tateante, é visível e sensível ao mesmo tempo

Ter um corpo é ser afetado, colocado em movimento efetuado por conexões com outros seres humanos e com não humanos. "

Obra de Mia Charro

Esta razão sensível do corpo é uma espécie de sismógrafo e a memória vai tramando a cada instante suas  lembranças no próprio corpo. 

Cada corpo é uma história de sensações que geraram formas de percepção, tão arraigadas que nem mais damos conta que esta é uma forma de sentir a realidade criada por costumes, ambiência e práticas educacionais. 

Este estado afetivo do gesto e da postura confere uma identidade à pessoa, pode ser que no processo criativo ao confrontar seus paradigmas sensíveis que pedem uma mudança na postura. a pessoa  sinta um desconforto psicológico que sem expressão na linguagem  pode ser somatizado num estado fisiológico. 

Acompanhar atentamente estes descompassos corporais requer também imaginar propostas para que este corpo se movimente, encontre acolhimento nestes desequilíbrios momentâneos.

Nas mentorias da Residência criativa desenvolvemos uma pesquisa imensa sobre práticas corporais e sempre tem uma sob medida para o seu momento criativo.

Vem saber mais sobre o nosso trabalho : www.residenciacriativa.com

Anterior
Anterior

Maria Lira Marques : ser(tão) imaginal

Próximo
Próximo

Mira Schendel :  ecos do silêncio visual