Giorgia O’Keeffe :  O chamado ao deserto

Georgia O'Keeffe, 1948 Philippe Halsman

Giorgia O'Keeffe descreveu o deserto como um lugar de solidão e plenitude, onde ela poderia se reconectar com a essência da natureza e consigo mesma. Em suas cartas e escritos, ela frequentemente expressava a emoção e o impacto espiritual que sentia ao observar a vastidão e a beleza crua  das paisagens desérticas, os céus expansivos e a quietude isolada que a cativaram profundamente. 

Ela frequentemente se referia ao Novo México como "meu país", um lugar onde ela sentia uma liberdade criativa absoluta.

O deserto influenciou grande parte de sua obra, desde suas famosas representações de ossos e crânios de animais até as montanhas Pedernal e suas formações rochosas únicas. As cores vibrantes do céu e as texturas da paisagem também inspiraram seu uso inovador de formas e abstrações em suas pinturas.

A partir da década de 1930, O'Keeffe passou longos períodos no Novo México, mas foi apenas em 1949, após a morte de seu marido, o fotógrafo Alfred Stieglitz, que ela se mudou permanentemente para a região. Ela estabeleceu residência em duas propriedades icônicas: primeiro em Ghost Ranch e a segunda em Abiquiú, onde viveu e trabalhou até os últimos anos de sua vida.

A artista primava pela contemplação lenta e constante das coisas

 “É apenas por seleção, por eliminação, por ênfase, que chegamos ao

verdadeiro significado das coisas”

Em uma carta escrita por O'Keeffe, ela descreve esta amplidão de sua vida no Novo México:

"É tão silencioso aqui que, às vezes, ouço meus próprios pensamentos como se viessem de fora de mim. Esse silêncio me faz sentir pequena diante da vastidão do deserto, mas também mais conectada a ele — como se as formas que pinto já estivessem aqui, esperando serem encontradas no silêncio."

Georgia O'Keeffe with 'Pelvis Series, Red with Yellow' and the desert, 1960

Na Biblioteca de Georgia encontramos esta obra de André Malraux : As vozes do silêncio

Na visão de Malraux, o artista nunca se submete ao mundo, pois, a vontade de o transformar é inseparável da natureza do artista. 

“Todo estilo cria o seu universo próprio ao conjugar os elementos do mundo que permitem orientar este para uma parte essencial do homem"

Esta busca do essencial é uma característica marcante não só da artista O'Keeffe, mas da pessoa Giorgia em todas as suas expressões de vida. 

Vemos um minimalismo na decoração de sua casa, o seu estilo se revela no seu modo de viver: nas suas roupas, que ela mesma costurava e na sua culinária.

Wanda Corn uma pesquisadora da História da Arte,  explica que há em Giorgia, a presença de uma identidade que busca a moderação seus gestos delicados e sóbrios impregnam cada peça do seu guarda-roupa.

Aqui encontramos uma reverência ao silencio e a liberdade de criar um modo próprio de viver.

Referências de leitura do artigo: 

  • "My Faraway One: Selected Letters of Georgia O'Keeffe and Alfred Stieglitz, Volume 1 (1915–1933)"

Esta coletânea editada por Sarah Greenough reúne as cartas trocadas entre O'Keeffe e Alfred Stieglitz. Muitas das cartas contêm insights sobre o processo criativo de O'Keeffe, seus pensamentos sobre a arte e o impacto do deserto em sua visão artística.

  • "Georgia O'Keeffe: Art and Letters" de  Jack Cowart  e Juan Hamilton. 1987,

Esse livro apresenta algumas de suas cartas juntamente com imagens de suas obras, destacando sua perspectiva sobre o trabalho criativo.

Recomendo a visita virtual ao seu Museu:

https://www.okeeffemuseum.org/georgia-okeeffe-museum-virtual-tour/

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