A intensidade das travessias
Um amigo me perguntou: Mas afinal, o que é a Residência criativa ?
Eu respondi com serenidade: Eu não sei, só sei que quero continuar esta travessia para poder contar o que aprendi. Ou como diz Guimarães Rosa "Quem elegeu a busca não pode recusar a travessia" e nem os atravessamentos que aparecem no caminho.
A cada Residência realizada eu faço um desenho, mas não garanto nunca que ele é o final, é sempre um esboço.
Seria contraditório dizer que a mentoria na Residência é de cocriação e já ter fechado um caminho. A realidade é que o grupo que se forma, as pessoas e os temas escolhidos são parte fundamental do que vai acontecer. Realizamos juntos travessias e nelas todos mudamos, especialmente os mentores do processo, ninguém fica de fora das dúvidas, das alegrias e das perplexidades encontradas. O que muda é o grau de intensidade que cada um se permite.
Você pode chegar numa experiência e ter um insight, pode trazer uma pergunta e percorrer uma trilha de experiências e leituras, pode ser revirado do avesso numa série de trilhas cada vez mais profundas que questiona o paradigma da sua pergunta.
Este momento é de pura travessia.
Como disse uma amiga, Denise Mendonça, criadora do Instituto de Arte Tear :
"O trans-bordamento dos limites do desenho não significa sentidos desmanchados"
Ao contrário é quando transborda que ampliamos os nossos horizontes, é o momento de encorpar (integrar nos gestos) o que dizemos, de forma poética, elegendo a busca como uma forma de ser.
"É preciso mover-se pelo ímpeto de realizar travessias" diz o cartaz da Natalia Xavier, eu concordo e sei que travessias não são precisas, se desdobram e surpreendem.
É por isso que não tenho uma definição para a Residência criativa mas sempre um convite.