Um estado semente

Adélia Prado em um poema declara :

"Quero o que antes da vida

foi o profundo sono das espécies,

a graça de um estado.

Semente.

Muito mais que raízes."

Este trecho sempre me intrigou, o que seria um estado semente ?

A maioria das sementes germina quando colocada em condições ambientais favoráveis. Nessas condições, quando a germinação não ocorre, as sementes são consideradas em estado "dormente". O termo latência, relativo às sementes, equivale ao repouso seminal, devido a toda e qualquer causa.

A latência compreende dois estados: o de quiescência, quando o repouso é devido a condições externas desfavoráveis à germinação, e o da dormência, quando é devido a fatores internos das sementes.

Este estado de latência parece portanto um pretexto : a possibilidade de escolha frente ao ambiente externo ou interno. Quantas vezes nos precipitamos frente as situações, não deixando este estado de latência acontecer, não pressentindo se existem realmente condições para o florescimento naquele ambiente ou mesmo na nossa vontade ?

Eu não me refiro a um planejamento detalhado, ou mesmo aos estudos de cenários e prospectivas, como disse Adélia, é uma pergunta "muito mais que raízes".

Minha provocação é se permitimos este estado de comtemplação sensível, uma propriocepção : estado cinestésico que faz um mergulho na situação.

Você já sentiu aquele arrepio que te comunica, não vai é fria ?

Esta inteligência sensível que muitas vezes não escutamos, pelo automatismo ou velocidade dos nossos gestos ou por simples falta de presença na realidade vivida. Minha dica é que antes de agir você dê um tempo para a comtemplação, respire e compreenda onde você está.

Que emoções você sente com aquela decisão prestes a ser tomada, que palavras surgem em seus pensamentos, que sensações ?

Dê permissão para que este tempo aconteça e se tiver dúvidas peça um tempo para conhecer mais da situação, faça perguntas, veja as circunstâncias sobre outras perspectivas.

Podemos perceber que o estado semente é mais do que um momento de encruzilhada, pois nela reside a liberdade do não nascer, de esperar.

A bondade de que nem sempre precisamos decidir entre isso ou aquilo, que podemos repensar os paradigmas e escolher um outro arranjo onde isto e aquilo estão juntos ou de que não queremos nenhuma das duas propostas trazidas nesta encruzilhada.

Caminhos não são destinos é sempre possível retornar.Ou seja, não precisamos estar exaustos, podemos dizer não e ficar em latência, em uma atenção amorosa para possibilidades que nos permitam brotar e quem sabe florescer.






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