Aprender a desaprender
“O essencial é saber ver
– Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!).
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender...
Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu...”
O poema de Alberto Caeiro é um convite para você reavaliar os paradigmas que te impedem de perceber a realidade. Por vezes, nossas teorias embotam nossos sentidos e trazem as respostas antes mesmo das perguntas.
Estes dois últimos anos me levaram a uma reconexão com a Natureza, desde o simples observar contemplativo até o cultivo de uma horta. Recomendo muito a prática de plantar desde a semente, você vai perceber a sua ansiedade programada, o quanto não damos tempo para as coisas brotarem no seu tempo natural.
No trabalho da horta percebi também vários preconceitos enraizados na minha alma, fruto de um modelo de agricultura embebido em nossa cultura.
A relação com as chamadas "ervas daninhas", é só um exemplo, entre infinitos que foram revistos. Aprendi ou melhor desaprendi, o hábito de tirar estas plantas chamadas de ervas daninhas. Compreendi que elas são plantas bioindicadoras, o seu nascimento é uma forma de dizer a composição do solo. São chamadas de plantas ruderais, pois acompanham o homem e nascem de forma espontânea. Se a terra fica doente, se o solo empobrecer ou ficar compacto, lá está o trevo, a tiririca tentando regenera-lo.
Ana Primavesi uma defensora incansável da saúde do solo sempre trabalhou com a informação que estas plantas contam sobre as características do solo. Ou seja, é preciso entender o canteiro e estas plantas mostram um desequilíbrio do solo, o estudo das práticas agroflorestais me mostraram um novo paradigma de entendimento da Natureza, virando de cabeça pra baixo tudo o que pensei que sabia.
Conto isso porque acredito que muitas vezes, olhamos sem ver, temos teorias impregnadas em nossas cabeças, que já estão tão acomodadas que nem percebemos que recortam nossa realidade em fórmulas e possibilidades limitadas.
E você já viveu, em algum momento esta mentalidade conceptiva, que impede a sua sensibilidade e o contato com o desconhecido ?
Que tal um "nude" de alma, ou como diz o poeta, despir-se do que aprendeu, para enfim olhar, tatear, cheirar, sentir o entorno e as pessoas, como se tudo fosse a primeira vez.