Semear : projetos e generosidade

Você certamente estudou isto na Biologia e sabe que existem várias formas de espalhar as sementes, incluindo espécies que preferem não escolher portadores, parceria das plantas com insetos e mamíferos, mas que criam formas inovativas de propagar suas sementes : como a explosão, o caso da Hura crepitans ou gerando sistemas engenhosos e aerodinâmicos de entrega.

Eu sempre me surpreendo com a quantidade imensa de sementes espalhadas e esta generosidade de tentativas me convoca a refletir sobre: como somos impacientes com nossos projetos. Quando iniciamos uma pesquisa queremos que nas primeiras tentativas as idéias frutifiquem e se não der certo, logo abandonamos o projeto e desenhamos um novo caminho.

E se o problema for no modo de semear as idéias, nos parceiros escolhidos para esta disseminação ou mesmo no tempo necessário de espera para que aquilo que imaginamos brote na realidade. É fundamental resgatar essa generosidade, criar caminhos diversos para o projeto, escolher diferentes parcerias e ter paciência na colheita dos resultados.

Eu não estou com isso minimizando o papel da avaliação ou dos planejamentos e prospectivas mas ajustando as expectativas com um ritmo mais natural dos processos, entendendo inclusive que muita experimentação de cenários e contextos é preciso para que um projeto se realize ou se materialize.

No livro de Stefano Mancuso ele conta que a semente do abacate , grandiosa como um ovo Fabergê, era espalhada pelos animais da megafauna e que hoje nenhum animal consegue engolir um abacate inteiro sem danificar a semente.

A reflexão me levou a pensar que ao desenhar um projeto devemos pensar nas delicadezas do seu ecossistema, não há como sobreviver se a rede de apoio não existir ou mesmo se não pensamos em incentivá-la junto com o projeto.

São muitos os paralelos que podemos fazer e aprender com este sistema delicado de entrega das sementes, mas cabe antes de tudo um profundo respeito e encantamento por estas soluções encontradas e um olhar atento para suas histórias.

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